29 de setembro de 2006

CENAS DE CAMPANHA II

continuação... Sem preconceito, mas não resisti: A candidata a "governador" da Paraíba Lourdes Sarmento com seu discurso impecável em defesa dos "interesses gerais da classe operária". Sua proclamada coerência no PCO (que a moçada estudantil secundarista chamava de "Pão Cum Ovo"). Sua coerência (lembrança minha) ao aposentar-se por "invalidez" na UEPB e logo depois tentar um contrato como "professora visitante" no mesmo departamento de psicologia para a mesma vaga que ocupava antes da aposentadoria "por invalidez". Alguns "revolucionários" de hoje precisam, de fato, de uma reciclagem... no seu sentido ecológico.

CENAS DE CAMPANHA

Cenas mais que interessantes da disputa eleitoral de 2006: 1. A permanente blusinha branca (modelito evangélico-igrejeiro de carola) e o indefectível ramalhete de flores sustentado na mão esquerda pela candidata a presidente do Brasil HH em todas as aparições na TV. Se era sincero o seu carregar flores só tem um resultado: vai precisar de ortopedista (ao menos pra pedir raio X) e fisioterapeuta depois de 1º de outubro, pois, invariavelmente, deve adquirir LER. Seu discurso de "mãe" me lembrou o tempo todo uma ex-candidata paraibana.

QUANDO NASCE UM POETA

Pensando bem... quando nasce um poeta? Ao escrever o primeiro verso? Ou ao beijar a primeira boca?

23 de setembro de 2006

SONETINHO (QUASE) MODERNO

"SEGUI UM CERTO AMOR QUE ME CHAMAVA SEGUI O VENTO SEM DESTINO CERTO UM SOM DISTANTE, QUASE INAUDÍVEL SEGUI... A LUZ TÊNUE DO OCASO. SEGUINDO ASSIM A UM CHAMADO NOVO VIREI MENINO E ATÉ VOLTEI NO TEMPO A MÃO SUADA A EMOÇÃO REVOLTA O DESCOMPASSO ME APERTANDO O PEITO. E POR TANTO SEGUIR A TAL PRETEXTO DESCONFIADO SE 'INDA PODIA VOAR POR ESSES MUNDOS DE VISAGENS DEPOIS DE TANTOS CARNAVAIS... DEPOIS LUAS... E MAIS LUAS... E O SERENO A VIDA ME RESPONDE: TOME TENTO!" (Do livro "Os Sapatos Apaixonados")

18 de setembro de 2006

TECENDO A MANHÃ

Nada mais belo há sobre a face da terra que o ser humano. Não há flor, lua, pôr-de-sol, paisagem... nada mais belo que esse ser humano, obra inacabada. Somente ele é capaz de amar, de inventar, de reinventar até o amor. Somente ele é capaz de amar e comunicar ao mundo o seu amor. Esse ser humano, tão capaz, criou um "ser" à sua imagem e semelhança, dotado de todo o amor e bondade. Tanto amor e bondade que ele, ser humano, estava impedido, incapaz de praticar pela opressão do seu semelhante. Vivemos tempos sombrios, é bem verdade. Tempos de desamor e muitas desalegrias. Tempos de muito dizer-não! Mas, que tempos são esses em que o amor precisa pedir passagem para ser amor? Para se revelar por inteiro? Felicidade não rima com miséria. Não há miséria maior que um choro de criança faminta. Falo de fome sem esperança, não de apetite com certeza de mamadeira. Felicidade rima com igualdade. É preciso dar uma chance ao amor. Dar uma chance para que ele vença. O amor que não se vende, não explora, não segrega, não oprime... Precisamos, como os galos, anunciar a aurora. Tecer uma manhã não é obra de um. Pode ser sonho de um, de uns, de milhões. Preparar essa aurora, edificar essa nova manhã... urge construir esse novo dia. A aurora é vermelha! Não esse vermelho eleitoral! Vamos juntos!

16 de setembro de 2006

... NÃO TÊM PREÇO!

Acho que andei plagiando alguém que não sei de onde nem quem. Parcialmente a mim mesmo. Já descobri. No texto "das antigas". Creio que aquele é que se baseou neste. Deixa pra lá! Este aqui foi "requentado", pois originalmente publicado no portal IPARAIBA. Mas está aqui na íntegra. "De fato, prezado (a) internauta, como diz aquela propaganda do cartão de crédito, certas coisas, pequenas lembranças, coisinhas singelas de tempos remotos, reminiscências do baú da memória... não têm preço. Aquelas ondinhas sopradas por fraco vento, formando uma espuminha junto ao cascalho da barragem do açude de Juazeirinho. Os barquinhos de papel que fazíamos quando chovia e seguíamos pela correnteza do meio-fio torcendo para que pudessem atingir a maior distância possível. O cineminha improvisado com os monóculos de casa numa caixinha de madeira, nosso "projetor" movido à pilha e lampadinha de lanterna. As apostas em carros que passavam na BR, pra ver quem acertava com o carrão mais luxuoso e caro. Sonhos à beira da rodagem, sombras que se agigantavam e desapareciam no paredão do posto de saúde quando faltava energia e os carros se aproximavam e sumiam no breu da noite. As partidas de futebol barra-a-barra, jogadas com bola-de-meia no leito da rua descalça. O canto melancólico do carro-de-boi avisando desde longe sua aproximação. Um jogo de finca, de pião, bila ou barra-bandeira. A confecção cuidadosa de uma boa coruja (pipa) com palitos de coqueiro, papel seda colorido, um carretel de linha Círculo e uma colinha de goma arábica para uma boa disputa nos céus caririzeiros. Um bom banho na ponte do açude. A conseqüente surra de Dona Neide na chegada em casa. Uma calça boca-de-sino, um sapato cavalo-de-aço, um cinturão com uma fivela de quase meio quilo e uma camisa de volta ao mundo. Uma cantoria de cego na porta do mercado, batendo o ganzá no ombro. O orgulho no peito num Sete de Setembro de bombo reluzente, elásticos nos punhos, esparadrapo nos dedos, peripécias e evoluções. Um passarinho preso no visgo. Um banho de chuva com direito a disputa numa biqueira especial da Prefeitura. Mela-mela durante o dia e um frevo de carnaval no clube. Fantasias estimulando 'fantasias' e lembranças. Um toca brincado em cima dum "pé-de-figo". Uma unha de dedão arrancada num tropicão e uma pereba curada com terra quente e lambida de cachorro. Uma boca toda pintada de violeta genciana pra curar sapinho. Uma aguinha fria e doce de barreiro colhida com as mãos em concha e bebida calmamente com direito a BG de passarinhos. Uma pescaria de piaba com anzol de vara de marmeleiro e uma enfieira de arame. Uma balinheira (ou baladeira para alguns) fabricada em casa com esmero, tiras de câmara de ar de caminhão, retalho de couro do lixo da sapataria de seu Raimundo e forquilha de marmeleiro, escolhida a dedo depois de longa pesquisa. Um alçapão pra pegar golado, pintassilgo, bigode e papa-capim na beira do açude. Um nambu, uma codorniz ou uma galinha-d'água, derrubados em pleno vôo, nos bons tempos de caçador adolescente. Uma poção de pipoca quentinha, fabricada na panela de barro com areia de rio lavada. Um pão francês com sardinha coqueiro e uma "crush" laranja. Um pacotinho de hóstias, comido às escondidas na sacristia da igreja e "aquele grude" no céu da boca impedindo a voz. Um pirulito de puxa-puxa vendido numa tábua cheia de furos, e um papel que impreterivelmente teria que ser parcialmente chupado junto. As primeiras batidas descompassadas de um coração e a denúncia anatômica do nascimento de uma paixão. Uma quadrilha junina desorganizada em pleno fim de festa num mercado público transformado em clube e a sanfona de Lourenço tocando dezenas de vezes "pagode russo" e "ôxente, camaleão!". Um grande rolamento de aço, cheio de rolemãs e empurrado por um arame dobrado ou um patinete de rolemã descendo a ladeira. Um repique de sino, tocado lá do alto da torre da igreja em enterro de gente importante, com uns bons trocados de gorjeta. Uma difusora de parque com um locutor de voz empostada enviando recadinhos e "páginas musicais" de "um alguém para outro alguém" numa festa de padroeiro. Um passeio circulando a praça numa pegadinha de mão suada, nervosismo de primeiras descobertas com o coração querendo saltar pela garganta. Quer saber mais? Elas não têm preço porque são atemporais, são eternas, são experiências imensuráveis e que nos compuseram, como notas de uma trilha sonora de nossas vidas". Então? Tente lembrar de quantas coisas boas não têm preço pra você!

9 de setembro de 2006

QUANDO SE ANUNCIA: PRIMAVERA!

Quando se anuncia: primavera, no calendário agreste já um verão juvenil mostra os dentes. A luz penetra por entre juremas, catingueiras e velhas baraúnas ressequidas, alquebradas e de pé. Nuvens brincando de algodão, quase congeladas, inertes, esperam. Os lajedos são espelhos ao sol, lagartixas deleitam-se numa nudez imaculada enquanto os aveloses enfileirados viram soldados: guerreiros caririzeiros de uma batalha sem fim.

6 de setembro de 2006

BREXITA É A (...) DA MÃE!

(Este pequeno conto foi premiado no I Concurso de Contos-crônicas IMPRELL/CAAP, João Pessoa-PB) "O diacho é que ela era uma doida fogosa. Era mesmo. Diziam que havia ficado daquele jeito porque o queijo tinha subido pra cabeça. Sabe como é que é… num botou o bicho pra funcionar... Outro dia uma amiga profissional – gente entendida – me deu até uma explicação científica pro troço: o tal do queijo existe mesmo, e fica localizado numa região assim na parte de trás da cabeça. Eu, hein! A bem da verdade, quando o povo diz que é queijo… num sei não, mas é difícil de errar. Certo também que a língua do povo, principalmente numa cidadezinha como aquela, com um quase nada de coisas pra fazer a mais do que ver o tempo passar era um negócio terrível. Pois então! Dona Lourdinha do Pade, que tomava conta das chaves da igreja, uma beata carola, barata-de-sacristia, que muito mal levantava a cabeça quando andava pela rua, nunca nem se chegou assim mais perto de outro homem que não tenha sido o finado Tonho de Maroca, e diziam o diabo dela… imaginem só uma doida como Maria Brexita, sem pai nem mãe, sem peia nem cabresto. Era uma figura teatral. Andava rua acima rua abaixo, andar firme, mas cheio de mungangas, um caqueado sem sentido - ao menos pra nós - como se procurasse sempre alguma coisa no meio do amontoado de trapos esquisitos que cobriam seus couros velhos engelhados e de raros banhos. Cá pra nós, já viu coisa mais esquisita que roupa de doido? Cada um tem um estilo mais sofisticado, espalhafatoso, mas algo parece lhes ser comum: mesmo no tempo mais quente têm uma quedinha, cada qual ao seu estilo, pra botar um monte de trapos por cima do esqueleto e, de quebra - o que não pode faltar, é claro - alguns adereços que, no fundo, acho eu, devem ter algo a ver com a mania que os acompanha. Algum detalhe no percurso que os transformou em seres especiais, essas coisas que a gente não entende muito e joga logo na vala comum do “Freud explica”, como se o velho e sisudo pai da psicanálise tivesse inventado nada mais que um moderno oráculo, fonte onde devíamos buscar todas as respostas para o desconhecido universo da psique. Andava com um vestido longo de chita que batia lá pelo calcanhar, cheio de florzinhas azuladas, já desbotado pela peleja de tantos anos, de tanto sol e tanta chuva que, se não me trai a memória, era o único, ao menos durante o tempo inteiro em que a conheci. Usava-o com uma blusa verde por cima, um casaco velho de malha parecido mais com um bombril, cheio de fibras e, como se fosse pouco ainda, uma inseparável manta - que no passado havia sido uma colcha de chenil Madrigal e que umas vezes servia de cachecol, noutras, era o cobertor que defendia os velhos e quase carcomidos ossos da friagem noturna. Não tinha parelha a velha Brexita. Com ela não tinha esse negócio de ser lua cheia não. Qualquer dia era dia. Um moleque açoitava por trás dum poste, “Brexita!”, “Brexitaaaaa!”, ao que ela devolvia estridentemente, “Brexita é a (...) da mãe”. Mais à frente sentava no batente da casa paroquial, outro espocava da esquina, e este era o mais provocador de todos, “Maria Brexita, ói o preá na boca”, insulto suficiente para que a dita cuja arribasse a saia, deixando à mostra toda sua intimidade, se é que louco algum já teve intimidade na vida. A escolha do preá como símbolo não era gratuita, pois a referência ao pequeno roedor silvestre, um verdadeiro gabiru sem rabo, era uma comparação da região pubiana com o dorso peludo e de cor escura no animalzinho tipicamente nordestino. Era uma zorra total naquele momento, um cu-de-boi desgraçado… pois a pobre louca, até ali compenetrada, mexendo com seus teréns na velha mochila, brandia o seu tradicional cacete de catingueira de mais ou menos uns oitenta centímetros e sei lá quantos anos de companhia, e aí não ficava ninguém por perto, temendo a concretização da ameaça. O certo é que não se tem notícia se algum dia ela bateu em alguém ou mesmo atirou uma daquelas tantos milhares de pedras que apanhou à primeira vista e as ergueu trêmula, bradando, ameaçando atira-las em seus desafetos. Conseguia mesmo era satisfazer a curiosidade da meninada que ansiava pra ver o tal “preá...” que só Brexita mostrava. E a molecada se deleitava. Sou capaz de jurar que até mesmo ela se divertia um pouco com aquele espalhafato provocado pelas suas estripulias. Talvez, no íntimo - e esse pode ser o grande segredo de muito louco por aí afora - debochasse da cara de todo mundo, na sua mesmice, no seu todo-dia-fazer-a-mesma-coisa, enquanto ela, Ah! isso ninguém iria saber, pois no seu mundo ninguém penetrava, ou quase ninguém… ninguém… Não sei por que cargas d’água, sempre há de ter algum destrambelhado que, na falta do que fazer, aparece pra estragar tudo. E, nestas horas, fica sempre no ar a grande dúvida sobre quem é mesmo louco. Naquele fatídico dia, sem imaginar o desfecho infeliz de sua conturbada trajetória, Brexita passou como sempre na casa de Dona Zefinha que encheu de café sua velha caneca de ágata, outrora laqueada de verde, já descascada pelos anos de sopapos, pegou o pão francês adormecido na bodega de Zé Pequeno e mandou-se pra rua. Aquele era o ritual de anos e anos. Sempre o mesmo caminho, sempre às mesmas horas, os mesmos gestos, as mesmas falas, os mesmos moleques. Claro, de três ou quatro gerações diferentes, mas sempre os mesmos. Aquele parecia um dia como todos os outros, não fosse a chuva pesada que ameaçava despencar lá de cima com toda força. Ora, quem diria que justo naquele dia a cidade teria uma das maiores quedas d’água de sua história? Depois de tantos anos de seca, novamente a promessa de fartura. Nos últimos anos, quando chovia com abundância acontecia a chamada seca verde, que deixa o mato todo verdinho, mas caindo sem regularidade, mata a lavoura inteira deixando todo mundo na mão. No entanto, aquele inverno prometia. Começando logo com um temporal brabo, quem sabe agora... Não andou duzentos metros e teve que se proteger do toró que veio troando e veloz como uma bala pra desgosto de Brexita e alegria e esperança de milhares de corações daquele velho cariri de guerra que, apesar de toda aquela tal modernidade, ainda penava com a agricultura de subsistência à mercê dos fenômenos da natureza. Ali os homens e mulheres não sabiam ainda o que era progresso, a não ser nos discursos dos candidatos nas eleições ou diariamente depois da boquinha da noite quando desligavam do seu mundo real e se ligavam na televisão. Aí sim, o mundo se transformava. Pelo menos nas suas esfrangalhadas fantasias. Êita, mundinho bonito aquele da televisão... Pois bem, quem iria dar abrigo a uma louca no meio dum temporal daqueles? Somente sei que ela foi esgueirando-se pelas paredes até o velho prédio do vapor, onde funcionou a casa de força, que em tempos idos fornecia luz elétrica para a cidade, a esta altura abandonado e prestes a cair. Suspirou aliviada quando se sentou embaixo de uns papelões velhos que alguém providencialmente havia estirado por cima de umas cinco ou seis estacas, provavelmente roubadas da cerca do açude, e outros quatro paus mais finos fincados em buracos feitos na velha parede de tijolos cheios e carcomidos, uns tijolões como não se fazem hoje em dia, de uns quarenta por vinte cada um, sustentados no massame forte, agora caliça ressequida pelo passar dos anos. Nem sei como ainda mantinham-se de pé, resistindo à ação do tempo e do abandono há quase um século. Ali mesmo ela acocorou-se encostada na parede do velho prédio, aproveitando para comer um pedaço de pão ensopado no café há horas frio. Dente já não possuía mais nenhum dos que a natureza lhe deu. Sorte que um dia o velho Zé da Ilha Grande, prático dentista, de coração imenso, fez-lhe um favor extraindo-lhe os últimos três caninos que restavam. Agasalhada em seus trapos, embalada pelo barulho ritmado da chuva sobre o papelão, quase cochilava quando surgiu não se imagina de onde, aquela figura estranha, olhos esbugalhados e um sorriso estranho, meio cínico, meio raivoso, meio-não-sei-o-quê, daqueles de canto de boca, tomando conta de toda a cena. Ela até que tentou ensaiar um grito, mas quem ouviria um grito no meio daquele toró de fim de Janeiro? Ainda mais o grito de uma doida. Só sendo mesmo... Encontraram-na por acaso, no dia seguinte, jogada em meio aos teréns largados no chão enlameado, um pedaço de pão dormido, feito uma pasta disforme ainda junto da velha caneca de ágata – companheiros inseparáveis. Entre tantos suspeitos, há um que ainda hoje vive preso por lá. Estatura mediana, branco, cicatriz no lado esquerdo do rosto, entre o olho e a orelha, que também faltava um pedaço no lóbulo, lembrança de uma briga no cabaré de Sinforosa. Quiseram – até tentaram – linchá-lo dentro da cadeia, mesmo sem sabê-lo culpado. Qual nada. Precisavam, como disse um passante, de um “bode respiratório” para exorcizarem seus dramas cotidianos, quiçá a maldita estupidez da vida. No laudo comprovaram estupro seguido de morte por traumatismo craniano, provocado por objeto contundente, provavelmente um dos tijolões daqueles lá do velho prédio. Dela não se sabe muita coisa. Origem, família, idade… Foi enterrada como indigente, levada ao cemitério no caixão de caridade, empréstimo da prefeitura. Disseram que tinha uns parentes lá pros lados da Serra do Borges e que de há muito já dobrara o Cabo da Boa Esperança. A expressão do seu rosto era indescritível. Só mesmo vendo! Mas, quem iria perder seu tempo pra ir ver uma louca defunta? Estivesse viva, ao menos xingaria daria-lhe um pão dormido… mudaria de calçada. O que não daria mesmo era pra ignorá-la".

3 de setembro de 2006

DAS ANTIGAS

Todas essas coisas já foram moderníssimas entre os rapazes! Uma calça de BRIM (TERBRIM) com bolsos laterais rasgados na diagonal, uns botões de metal e costuras à vista. Qualquer que fosse a cor. Uma camisa de poliéster ou volta-ao-mundo, fininha, coladinha ao corpo e aquela sensação de estar ligado, sintonizado com a “última moda de Paris”. Um sapato cavalo de aço com uns 5 cm de solado e um salto de uns 8 a 10 cm. Pense numa capacidade de equilíbrio grande! Uma calça “boca-de-sino”, de preferência com uma “nesga” de outra cor diferente da original, fazendo uma espécie de funil de boca pra baixo, arrastando no chão. Um cinto de couro com uma fivela metálica “desse tamanho”, pra combinar com o “cavalo-de-aço” e a calça “boca-de-sino”. Ah, e a camisa coladinha de poliéster. Um perfume Topázio ou Toque de Amor, da Avon. Pense num sucesso grande! Comprar coisas na “Hermes” pelo reembolso postal. Fotografar um filme inteirinho numa máquina fotográfica “Love”, enviá-la pelos Correios e ficar esperando uns 15 dias pra receber as fotos normais coloridas, um conjunto das mesmas fotos miniaturizadas e uma “Love” nova pra começar tudo de novo. Um sabonete Alma de Flores ou PHEBO, até então, somente do pretinho! Um pente Pantera no bolso pra garantir o cabelo, cortado “pigmaleão”, bem penteado e “nos trinques”, com a ajuda de um Gel fixador. Poderia ser Brilhantina Promesa! Mandar um recadinho pr’uma menina escrito em bilhete ou apenasmente dito verbalmente pra outra amiga que atuava como “corta-jaca” ou “segura-vela”, dizendo: “Tô a fim de você”! Ass: fulano de tal. “Tirar um sarro” com uma das meninas que gostavam de trocar de namorado em cada nova festa , ou fim de festa, ou final de semana. Seria “ficar”? Assistir ao seriado “Os Monkies” ou “Os Três Patetas”, morrer de rir e achar o máximo. Sentir pena de Olívia Palito e vibrar de emoção quando Popeye achava a latinha de espinafre e a devorava, começando a reação para finalmente derrotar Brutus. Assistir os Thunderbirds ou os Jetsons. Ficar encantado com um brinquedinho “GENIUS” da Estrela, que fazia você apertar botões em uma seqüência aleatória que a geringonça oferecia tocando uma musiquinha eletrônica. Brincar de patinete descendo ladeira e empurrar um “breque”, feito de arame, e com um rolamento bem grandão sendo “guiado” por ele. Brincar de “finca” no chão úmido, disputando a melhor pontaria enfiando uma pequena alavanca no chão e demarcando o terreno até chegar a um alvo previamente delimitado. Jogar bila (bola de gude) e pedir “trans” para melhorar a posição para uma jogada de mestre. Assistir a um “cinema” (um filme em cinemascope!) no Mercado Público levando o tamborete de casa. Comer um pão-doce-de-côco, todo melado, acompanhado de uma “Gelada” de coco. Ou quando a grana estivesse melhor, uma Crush laranja ou Grapette. Jogar “bafo” com figurinhas de álbum da seleção brasileira, campeonato brasileiro ou simplesmente uma coleção de artistas de novela. Calçar um “Kichute” preto e sair se achando o máximo. O tampa de Crush! Vestir a farda do colégio completada por um tênis de lona e borracha “Conga” azul e branco. Ver passar uma menina linda, toda “reboculosa” e comentar baixinho pros amigos: “É uma jumenta”! Dar um passeio, no Domingo à tarde, no “Vemag” ou no “Aero Willys” do pai do amigo. Alugar bicicleta para aprender a pedalar ou simplesmente pra dar umas voltas pela cidade. Um passeio de roda-gigante num parque de diversões, com a 'paquera' do lado, ouvindo “A Desconhecida” de Fernando Mendes. Participar de um “assustado” no sábado à tardinha, dançando ao som de Lady Zu, As Frenéticas, Celly Campelo & Cia, das 17h às 20h, bebendo “calcinha de nylon” ou “leite de onça”. Os mais ousados dançavam “Black Côco”! O romantismo poderia ficar por conta do som de Bonnie Tyler cantando “It’a Heartache / nothing but a heartache / Hits you when you’re too late (...)”! Assistir Vila Sésamo numa TV em Preto & Branco (Telefunken ou National) com uma tela multicolorida acoplada na frente pra dar a sensação de TV em cores. Completando a cena, duas meias-buchas de Bombril nas pontas da antena pra melhorar a sintonia. Acompanhar palhaço de perna-de-pau ou monociclo pela cidade, respondendo suas chamadas: “E Olê lê, sinhá Chica! Arremexe a canjica!”. “Binidito Bacurau! Ta no ôco, ta no pau!”... e por aí em diante... Depois receber um carimbo no braço pra entrar de graça no circo “tomara-que-num-chova”. Tem mais...